Estudo diz que homens 'machões' são mais vulneráveis a doenças
Pesquisa alerta que indivíduos que adotam comportamentos alinhados com estereótipos de gênero costumam ocultar diagnósticos e tratamentos
Publicado: 06/02/2025, 08:13
![O arquétipo do 'macho' pode colocar em risco a saúde cardiovascular dos homens desde a adolescência e a fase adulta jovem](https://cdn.arede.info/img/cover/550000/1000x500/Captura-de-tela6-2-20258952ogloboglobocom_00558051_0_202502060813.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.arede.info%2Fimg%2Fcover%2F550000%2FCaptura-de-tela6-2-20258952ogloboglobocom_00558051_0_202502060813.jpg%3Fxid%3D1941577%26resize%3D1000%252C500%26t%3D1738840467&xid=1941577)
As expectativas sociais vinculadas à masculinidade hegemônica acabam cobrando um preço para a saúde dos homens mais alinhados com essas ideias. De fato, segundo uma pesquisa recente, o arquétipo do "machão" — autossuficiente, forte, invulnerável e capaz de controlar suas emoções — pode colocar em risco a saúde cardiovascular dos homens desde a adolescência e a idade adulta jovem.
Segundo os resultados do estudo, liderado por pesquisadores da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, e publicado na Jama Network, aqueles homens que, desde a adolescência (12 a 18 anos), adotam comportamentos mais alinhados com os estereótipos de gênero masculinos têm menos probabilidade de informar, na idade adulta (32 a 42 anos), a seus familiares, amigos e conhecidos diagnósticos de fatores de risco cardiovascular (como hipertensão, diabete e hiperlipidemia) e os tratamentos que recebem para essas condições.
— Nosso estudo sugere que existe uma conexão entre como meninos e homens são socializados e a evitação da atenção médica preventiva, seja por medo, ansiedade, vergonha ou por sentimentos genuínos de que não precisam de ajuda — explica Nathaniel J. Glasser, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de Chicago e autor principal do estudo.
Segundo o médico internista, as qualidades associadas à identidade de gênero masculina “entrariam em conflito” com outras que, de outra forma, “facilitariam a busca e recepção de ajuda ou a admissão de vulnerabilidades”.
— A relutância em reconhecer certos sintomas ou em buscar ajuda médica pode ser comum, de modo geral, entre uma população jovem com ideais mais elevados de masculinidade — reconhece Carolina Ortiz, secretária-geral da Sociedade Espanhola de Cardiologia (SEC).
Essa opinião é compartilhada por Jorge Marcos, professor do departamento de Psicologia da Saúde da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Alicante, na Espanha que há anos estuda o impacto dos estereótipos de gênero na saúde.
— A relutância dos homens em expressar suas preocupações com a saúde se deve, em parte, à internalização de expectativas sociais que associam a masculinidade à autossuficiência e à força. Reconhecer um problema de saúde é frequentemente percebido como um sinal de fraqueza, o que entra em conflito com as normas da masculinidade hegemônica — afirma.
Para o especialista, a necessidade de alguns homens de projetar invulnerabilidade não afeta apenas sua autoimagem e a percepção pública, mas também “limita a busca por ajuda e o acompanhamento adequado dos tratamentos”.
Segundo os dados do estudo, por exemplo, os homens com maior expressividade de gênero masculino aparentemente apresentavam menos diagnósticos de hipertensão, diabete e dislipidemia. Esses resultados coincidem com os de outra pesquisa publicada na The Lancet, que também estudou a relação entre a expressão de gênero durante a adolescência e os resultados de saúde no futuro.
Segundo essa pesquisa, homens que estavam mais próximos dos estereótipos de gênero masculinos na adolescência pareciam estar mais protegidos contra fatores de risco cardiovascular, como pressão arterial elevada e colesterol alto, na vida adulta.
Informações: O Globo