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Coluna MSN: Mar ausente

“A poesia marítima de Thereza Cristina Push”

Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Miguel Sanches Neto é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa -

Da Redação

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Entre as atrações turísticas de Ponta Grossa está o nosso vasto mar. Um mar seco, memória de um período pré-histórico que pode ser visto nos nossos campos que nos iludem, criando uma sensação de que a praia é logo ali. Para mim, é uma distância segura com o oceano esta que mantemos, o que nos inspira a construir casas de frente para uma praia imaginária.

Este sentimento de uma presença do mar como ausência marca os poucos e belos poemas deixados por Thereza Cristina Pusch (1952-2001), “Procura do azul” (Editora da UEPG, 2023). Poeta bissexta, como bissextos foram Brasil Pinheiro Machado e Alvaro Augusto Cunha Rocha (uma sina local?), Thereza Cristina escreveu movida por “esse impetuoso imenso desejo de mar / na alma”, em versos que se assemelham a ondas no seu eterno fluxo e refluxo.

Professora de literatura no curso de Letras, enfrentou uma dificuldade extrema de visão durante toda a sua carreira, o que não a afastou nunca dos livros, lidos com os óculos quase tocando as páginas. Esta sua percepção embaçada do real imediato só fortalecia a conexão com um mar informe que estava muito presente: “mar tão meu / tão longe”. Para que fosse dela, o mar não precisava estar a seus pés, era mais uma paisagem simbólica, vastidão infinita que se abria como mistério.

Se, por um lado, a poeta faz uma defesa das coisas como elas são (“a grande pureza das coisas / é serem apenas coisas”), ela busca justamente o que não está no plano da matéria, este azul que se confunde com o mar, este mar que se confunde com a eternidade, esta eternidade que se abre para quem tem restrições visuais: “mar ausente / sempre em mim”, com seus “muitos caminhos / azuis / dentro da noite”.

São nítidos os ecos de Cecília Meireles de “Mar Absoluto” (1945) em Thereza Cristina Push, que encontra nesta máquina marítima uma tradução para a sua dificuldade de enxergar que, por isso, se reveste de valor filosófico.

Pouco vemos de um universo que foge de nossa compreensão. 

O autor é escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa. No Instagram: @sanchesnetomiguel; no Facebook: https://pt-br.facebook.com/miguelsanchesneto/; no Twitter: @miguelsanchesnt.

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